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Dois Perdidos Numa Noite Suja
Sobre o Evento
No dia 29 de setembro, data em que o dramaturgo paulista Plínio Marcos (1935-1999) faria 90 anos, a Companhia Teatro do Incêndio estreia a peça Dois Perdidos Numa Noite Suja, considerada uma das obras primas do autor. O diretor Marcelo Marcus Fonseca, que também está no elenco ao lado de André Pottes, leva ao palco uma encenação árida desse clássico do teatro brasileiro. A trama mostra a convivência forçada entre dois homens em um quarto imundo de pensão, o que gera uma tensão crescente, levando-os a atitudes violentas e a decisões radicais para se livrarem de seus destinos traçados pela condição social.
Tonho (Pottes) e Paco (Fonseca) vivem uma relação mergulhada numa interdependência causada pelo aprisionamento de ambos à condição de subtrabalhadores informais, que carregam caixas no mercado à espera de alguma oportunidade melhor. Tonho, que veio do interior e conta com instrução, viu-se perdido na cidade enquanto seu calçado estragou. Ele culpa essa situação por não conseguir um bom emprego. Paco, semianalfabeto e a um passo da marginalidade, um músico que teve sua flauta roubada em uma bebedeira, ostenta um sapato novo que ganhou, exasperando o companheiro. Paco busca aprender outro instrumento, mas já se encontra conformado com a vida que leva.
A cenografia (Marcelo Marcus Fonseca e Dan Maaz) é composta por estrados de camas sem colchões com toques arte urbana na sua estrutura, que estão situados distantes um do outro em um palco coberto de terra. Nesse espaço claustrofóbico, as figuras de Paco e Tonho habitam o vazio como se estivesse perdidos em um universo onírico, em um mundo já devastado e despojado de toda nuance ou humanidade: a imagética do texto está no cenário, nas figuras maquiadas com seus figurinos opacos de estética simbolista (criados por Alison Falconeres).
Sem cores, e fria, a iluminação (Rodrigo Sawl) sugere a falta de paredes no entorno dessas personagens como em um universo aberto, mesmo assim claustrofóbico. A luz recai sobre aqueles que estão distantes, pequenos, sem portas. Dentro desse quadro, o jogo da atuação e os objetos essenciais constroem a narrativa clássica de Plínio Marcos, apresentado uma plasticidade de estranheza com elementos brechtianos de distanciamento crítico, sutilmente esculpidos na encenação e no trabalho corporal preciso dos atores. A música ao vivo (direção musical de André Pereira Lindenberg - Dedéco), conduzida por percussão (Dedéco) e baixo elétrico (Xantilee Jesus) se estabelece em um “som do vazio”, numa tensão crescente que carrega as personagens a seus trágicos e inevitáveis destinos.






