Espetáculo de Teatro - A TERRA PROMETIDA: escadaria para o céu.

O espetáculo "A TERRA PROMETIDA: escadaria para o céu" mistura as tradições do teatro do absurdo e épico, utilizando uma combinação de elementos simbólicos e alegóricos para abordar questões centrais da condição humana. A peça acompanha as jornadas de dois personagens cegos – UHC (Um Homem Cego) e OHC (Outro Homem Cego) – cujas trajetórias grotescas e trágicas refletem figuras de poder moral e social.

A cegueira que esses personagens carregam não é apenas literal, mas simbólica, representando uma falsa sensação de superioridade. Ao longo da obra, essa cegueira se revela como uma alienação profunda, evidenciando a vulnerabilidade daqueles que se veem como superiores. Essa cegueira moral e emocional reflete as limitações ainda presentes em diversos aspectos da sociedade moderna, questionando a autenticidade das hierarquias sociais e as verdadeiras fontes de poder.

O espetáculo propõe uma reflexão crítica sobre temas como fanatismo, exploração e alienação, oferecendo ao público uma perspectiva sobre as dinâmicas complexas que sustentam a sociedade contemporânea. A relação entre UHC e OHC, permeada por um discurso que denuncia atrocidades cometidas em nome de uma autoridade divina, também revela a fragilidade dos próprios opressores. Ao pregarem a superioridade de um sistema de poder, os personagens expõem suas falhas, medos e contradições, sugerindo que até os dominadores são, na verdade, vítimas de suas crenças equivocadas. Este paradoxo é essencial para a peça, pois convida à investigação de como o poder é sustentado, não apenas pela força, mas pelas convicções falhas daqueles que o exercem.

A escada, símbolo central da obra, é usada para representar o ciclo vicioso de dominação e submissão. Em vez de simbolizar um caminho de ascensão espiritual, ela se transforma em uma metáfora de opressão contínua. A ausência de uma direção clara ou de um final libertador reflete a impossibilidade de romper as barreiras impostas pelo poder, destacando as estruturas que mantêm os indivíduos presos a um ciclo de exploração.

Além da crítica social, a peça também abre espaço para a representatividade, especialmente ao abordar a negritude e as lutas históricas e contemporâneas das comunidades negras. A inclusão dessa temática não apenas reflete sobre a marginalização social, mas também aponta para um ponto de resistência. A referência à capoeira, expressão da arte afro-brasileira, interage com o movimento e a dinâmica dos personagens, criando uma interseção entre corpo, cultura e identidade. A resistência aqui não se limita ao físico, mas se estende à preservação da memória cultural e à luta pela história.

O MYTHUS Teatro reafirma seu compromisso com a amplificação das vozes historicamente silenciadas, ao mesmo tempo em que desafia os pilares da sociedade atual. "A TERRA PROMETIDA: escadaria para o céu" vai além de uma performance teatral; é uma experiência transformadora. A peça incita o público a refletir sobre o seu papel nas dinâmicas de poder, a reconhecer as cegueiras que ainda persistem nas relações humanas e a confrontar as limitações e contradições que sustentam as estruturas de desigualdade e injustiça.

Ao convidar o público a questionar as fundações da autoridade e do poder, o espetáculo instiga uma reflexão profunda sobre o significado de 'subir' ou 'descer' dentro de um sistema de opressão que ainda nos cerca. A proposta vai além do entretenimento: é uma convocação à ação crítica e à transformação pessoal e coletiva.

Gênero: Drama/Absurdo

Duração: 70 minutos

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